sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Crise não melhorou controle de gastos de brasileiros, diz pesquisa

O brasileiro não aprendeu nada com a crise dos últimos anos. Pelo menos financeiramente, afirma Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, com base em pesquisa feita pelo birô de crédito que mostra que, no ano passado, 8 em cada 10 consumidores não conseguiram fechar as contas do mês somente com o orçamento.

O percentual, de 77%, é alarmante, segundo a especialista. "Mesmo que a gente tenha tido uma crise econômica muito severa, as pessoas não mudam os comportamentos", diz Kawauti.

"Eu tinha a impressão de que a crise ia ter um impacto positivo, que elas iriam colocar a vida financeira como prioridade. Mas ninguém controla gastos. Ou seja, mesmo sem crise, a gente vai continuar com inadimplência alta, crédito com juros altos."

Embora cortar as despesas ainda seja uma tarefa difícil, 40% dos entrevistados mudaram os hábitos de consumo, priorizando itens mais baratos e pesquisando mais os preços dos produtos, mostra o levantamento, realizado com 805 pessoas em novembro de 2017.

"Não é que as pessoas não sabem que a educação financeira é importante. O problema está em passar da constatação para a prática", afirma a economista-chefe do SPC Brasil. "Olhar para a vida financeira pressupõe que lide com frustrações de não conseguir comprar tudo o que se quer, mas isso é importante para evitar que consumidor se enrole lá na frente."

A pesquisa mostra ainda que 32% tomaram algum tipo de empréstimo para pagar as contas no ano passado. E que, para 59% dos entrevistados, a maior dificuldade está em fazer o controle do orçamento. "Se houvesse um controle maior dos gastos, uma tomada de crédito melhor, teríamos uma taxa de juros menor e uma inadimplência menor", diz Kawauti.

DESCONTROLE

De acordo com o levantamento, 45% não fazem controle do orçamento. Dentro desse grupo, muitos dizem não ter essa preocupação porque fazem as contas de cabeça (27,4%).

"Fazer conta de cabeça não funciona, a gente não lembra nem o que almoçou ontem, ainda mais quanto gastou. Precisa formalizar o controle, seja num aplicativo, seja na planilha, seja na caderneta. A conta de cabeça não é a solução", destaca Kawauti.

Ela considera que, para melhorar a estatística, seria necessário colocar educação financeira nas escolas. "Mudar quando criança é melhor do que quando adulto, que já está em uma zona de conforto. A criança já cresce com a informação e conscientiza os pais", ressalta. 
Por DANIELLE BRANT
Fonte: Folha Online

4 dicas para ensinar educação financeira ao seu filho - e elas não têm nada a ver com matemática

A partir deste ano, a educação financeira passa ser obrigatória nas escolas. Veja como introduzir essa prática (e criar bons hábitos) na sua casa

A educação financeira passa a ser obrigatória nas escolas de todo o Brasil a partir de 2018, de acordo com a homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Por enquanto, a norma vale do 6º ano em diante, sendo que o tema estará ligado à disciplina de matemática a princípio.

Mas isso não significa que as crianças não possam aprender, bem antes disso, a se relacionar de maneira saudável com o dinheiro. Para começar, é preciso entender que o aprendizado vai além de fazer contas. "O foco não deve ser apenas a matemática. É o comportamento que leva a uma transformação de hábitos", ensina Reinaldo Domingos, presidente da Associação de Educadores Financeiros (Abefin).

Ainda que – com a nova lei – a educação financeira seja incluída no currículo escolar, também é responsabilidade da família a formação financeira dos pequenos. “Ela está além dos muros da escola, já que 80% dos hábitos errados provêm do próprio lar”, destaca Domingos. OK, você já entendeu. E qual a melhor maneira de introduzir esse conceito dentro da sua casa? A seguir, veja algumas sugestões com base nos ensinamentos do especialista.

1) Compartilhar. Um dos piores exemplos a serem utilizados ao ensinar finanças é o Tio Patinhas, sabia? O dinheiro não deve ser colocado como objeto de adoração e o avarento não é uma pessoa educada financeiramente. A criança precisa aprender a doar e a ter empatia, se quiser ser bem sucedida lá na frente.

2) Sonhar. O que motiva uma pessoa, independentemente da idade, a gastar menos são seus sonhos e propósitos. Seu filho só começará a tomar um banho mais curto quando souber que isso custa dinheiro. E, principalmente, que para ter o videogame ou a viagem dos sonhos dele, todos os membros da família têm de poupar juntos.

3) Poupar. Uma vez que a criança aprende a importância de economizar, o passo seguinte é colocar o conceito em prática - para que se torne um hábito! Poupar nada mais é do que executar aquilo que ela já aprendeu. Os cofrinhos, claro, são os maiores aliados nessa fase.

4) Experimentar. Por fim, é necessário que as crianças testem o que lhe está sendo ensinado com seu próprio recurso financeiro. Isso significa, na prática, incentivá-las a descobrir o que as motiva (será aquela bicicleta nova?) e a guardar dinheiro para tanto. Além de ajudar os pais a fazer compras ou fazer suas próprias aquisições (como na cantina da escola, por exemplo) no dia a dia.
Por Aline Melo e Malu Echeverria
Fonte: Revista Crescer

Eles devem, não negam e contam como encaram dívidas

Endividado passa por estresse e,  ao tentar resolver o problema sozinho,  pode tomar decisões equivocadas.
Endividado passa por estresse e,
ao tentar resolver o problema sozinho,
pode tomar decisões equivocadas.
Pode ser uma demissão, a crise econômica, o descontrole financeiro, os juros altos ou tudo isso junto. São muitos os motivos que levam ao endividamento, uma situação recorrente no atual cenário brasileiro, geralmente constrangedora, desagradável e difícil de lidar. A pedido do UOL, quatro pessoas com perfis bastante diferentes relatam como enfrentam o endividamento e especialistas em finanças comentam suas estratégias.

Renegociou e está pagando Mariana*, 35, gerente de marketing
Uma dívida na casa dos R$ 40 mil foi transformada em 56 parcelas de R$ 700, que hoje Mariana consegue pagar --um compromisso a ser mantido por quatro anos. Até fazer o valor caber em seu orçamento, no entanto, houve muita angústia, tentativas frustradas de negociação com o banco e incessantes ligações de cobrança.

A gerente de marketing estava desempregada quando engravidou. Na época, seu marido tinha um negócio à distância, nos Estados Unidos, que ficou inviável com a alta do dólar. Ela passou então a usar seu limite no banco, de R$ 30 mil, até que este crédito também estourou. "Mesmo voltando a trabalhar depois da gravidez, eu não conseguia pagar tudo. As contas tinham acumulado e o maior problema era o limite do meu banco, muito alto."

Nessa época, recebeu uma ligação da gerente do banco com uma proposta: 30 parcelas de R$ 2.400 mensais. "Comecei a chorar, fiquei morta de vergonha, falei que não tinha como pagar aquilo. Mas fechei mesmo assim, porque não via outra saída", lembra. De fato, ela não deu conta e passou a "proteger" seu salário, depositando-o na poupança para o banco não fazer o desconto automático. "Me ligavam 200 vezes por dia cobrando e eu explicava que não tinha como pagar. Até que bloqueei o número."

"Hoje não tenho limite [de cheque especial] do banco e não pretendo voltar a ter" - Mariana, gerente de marketing

Começou então a receber cartas do banco com parcelas mais suaves daquela mesma negociação: em cerca de oito meses, a proposta chegou aos R$ 700 que cabiam no bolso. Ela deu sorte: em alguns casos, a tentativa frustrada de renegociação pode agravar ainda mais o problema.

"Não gostaria de ter acumulado um montante desse em dívidas e preferiria estar aplicando o dinheiro que hoje vai para as parcelas. Mas é um imenso alívio conseguir resolver e estar com as contas e o nome em dia. Hoje não tenho limite do banco e não pretendo voltar a ter."

O que diz o especialista
Mudar os hábitos é importante em caso de endividamento, assim como renegociar as dívidas com parcelas que realmente caibam no orçamento --caso contrário, a solução ficará só na teoria. "A renegociação e a revisão dos gastos devem ser colocadas em prática ao mesmo tempo, são ações conjuntas. É preciso reestruturar o orçamento para fazer essas parcelas caberem no bolso", defende Fabio Gallo, professor de finanças da FGV-SP.

Antes da renegociação, lembra o professor, é essencial entender aqueles valores -- muitas vezes os credores cobram indevidamente juros ou custos administrativos. Se o endividado não souber como fazer isso, deve buscar ajuda de quem entende, como órgãos de defesa do consumidor.

Procurou ajuda Bruno*, 39, microempresário
Com dívida de R$ 82 mil e sem sucesso nas negociações, Bruno decidiu procurar o Programa de Apoio ao Superendividado, do Procon-SP. Até a publicação desta reportagem --quando os juros não haviam aumentado ainda mais o tamanho do problema--, ele aguardava contato do órgão para receber as orientações de que tanto precisa. Fez um cadastro, participou de uma palestra e aguarda um retorno que, segundo lhe informaram, pode levar até quatro meses.

"Meu nome está sujo, recebo cartinhas ameaçadoras [das instituições financeiras], e-mails idem, tenho insônia e isso tira o sono da minha mulher. É uma situação chata, pesada, difícil. Mas no momento não há o que fazer, não tenho dinheiro para pagar. Tomo remédio para ansiedade e isso me deixa mais centrado. Também descobri uma maravilha, que é a possibilidade de o smartphone bloquear ligações: assim não falo mais com atendentes das empresas de cobrança, que ligam de manhã, à tarde, à noite, sábado e domingo."

"Aceitei as ofertas de crédito, até que comecei a usar um empréstimo para pagar o outro. O banco foi dando corda e me enforquei" - Bruno, microempresário

Seu problema, explica, foi o excesso de crédito pessoal --usado para pagar as contas de uma empresa de marketing criada em 2014 com dois sócios. "A coisa desandou quando um grande cliente saiu de forma inesperada. Aceitei as ofertas de crédito, até que comecei a usar um empréstimo para pagar o outro. O banco foi dando corda e me enforquei." Antes de ter o nome negativado, ele ainda conseguiu abrir uma conta em outro banco, no qual hoje faz suas movimentações financeiras.

Bruno considerou as primeiras ofertas de negociação, feitas em março deste ano, impagáveis (54 parcelas de R$ 5.900). No mês seguinte, a proposta baixou (48 parcelas de R$ 4.800), mas continuou fora de sua realidade. "Sem resolver, os R$ 80 mil de hoje vão virar R$ 100 mil, R$ 150 mil. Temos de chegar a um meio-termo, um valor que seja bom para eles e para mim. Mas, até agora, me parece que quem fica inadimplente consegue uma condição melhor de negociação. Acredito que o Procon vai me ajudar, pois eles devem saber como latir tão alto quanto os bancos."

O que diz o especialista
Diógenes Donizete é coordenador do Núcleo de Tratamento do Superendividamento da Fundação Procon-SP (superendividada é a pessoa/família que compromete mais de 30% da renda com financiamentos e parcelamentos). Ele afirma que, em 60% dos casos atendidos pelo núcleo, há chances de acordo com a instituição financeira já na primeira tentativa. E reforça a importância de só renegociar aquilo que realmente puder pagar, para não criar uma nova dívida (tentando pagar a antiga).

"Não aceite qualquer renegociação só para ganhar tempo. Também é muito importante manter a calma, pois o endividado será assediado por ligações de cobrança. Muitas feitas, indevidamente, fora do horário permitido. A empresa tem o direito de cobrar, mas a cobrança vexatória é proibida por lei", afirma Donizete.

Ainda não consegue resolver Cláudio*, 44, analista de sistemas
Cláudio não sabe exatamente quanto deve: por volta de R$ 11 mil no cartão e R$ 20 mil no cheque especial. Mas tem certeza de que, no momento, não consegue resolver o problema. "As empresas de cobrança me ligam propondo que eu pague R$ 500 ao mês. Sempre pergunto se eles não têm algo de R$ 50. Com R$ 500 eu pago as contas da casa, faço mercado. Hoje minha dívida é impagável", afirma o analista de sistemas.

Ele também não sabe se está com o nome sujo, mas conseguiu recentemente abrir uma conta em outro banco, usando um cadastro via aplicativo. Deixou assim de fazer movimentações na instituição para a qual deve: "Qualquer dinheiro depositado lá ia para o nada, eu estava apenas pagando juros". Outra providência, a ser tomada nas próximas semanas, é se separar no papel para a mulher não ser legalmente afetada por suas dívidas.

"Meu humor é proporcional ao saldo no banco e R$ 30 mil negativos deixam qualquer um deprimido" - Cláudio, analista de sistemas

A história começou em 2013, quando foi demitido. Desde então, aventurou-se sem sucesso em diferentes áreas: segurança eletrônica, frete, táxi e Uber. "Depois dos 40, fica difícil se recolocar. E minhas iniciativas de negócio próprio não deram certo, porque não sei vender." Em meio a essas tentativas, foi diagnosticado com depressão e hoje passa por tratamento. "Meu humor é proporcional ao saldo no banco e R$ 30 mil negativos deixam qualquer um deprimido. A dívida pode não ser a causa [da depressão]. Mas, quando o bicho pega, ressalta problemas que já estavam ali."

Sua esperança agora está em um novo emprego. Vai tomar conta de uma nova loja do sogro, que oferece serviços de gráfica. O plano é se estabilizar para só então resolver as pendências financeiras. "Devo, não nego, pago quando puder", resume.

O que diz o especialista
Diógenes Donizete, do Procon-SP, afirma que uma dívida de pessoa física só pode ser considerada impagável em situações muito pontuais: desemprego, por exemplo. "Não há como pagar quando a renda da sobrevivência está comprometida, com o risco de a família ficar sem água, luz, deixar de comer", reconhece.

Porém, assim que o endividado volta a ter renda, ele afirma ser possível regularizar a situação. "A pessoa que está superendividada passa por um estresse muito forte, o que abala suas emoções. Tentar resolver o problema sozinho não é a melhor das soluções: a ajuda nestes casos é sempre bem-vinda", diz o coordenador do núcleo que atende os superendividados.

Quitou uma dívida considerada impagável Maria*, 53, autônoma
A história de Maria é diferente das demais e traz uma mensagem positiva: ela não tem mais as dívidas que já considerou ser impagáveis. Este é o resultado de um processo de anos, que teve início em 15 de agosto de 2008, quando ingressou na irmandade D.A. (Devedores Anônimos). À época, estava seriamente endividada, sem emprego (apesar dos dois diplomas universitários), com a casa penhorada (hoje avaliada em R$ 3 milhões), luz cortada, sobrevivendo com o pouco que ganhava vendendo pães de mel na porta de uma igreja em São Paulo.

"Considerava minha dívida impagável, não via luz no fim do túnel e por isso pensava em suicídio", resume ela, que então já frequentava o A.A. (alcoólicos anônimos). "Comecei a beber por causa das dificuldades financeiras. Mas, mesmo quando parei com a bebida, continuava só falando em dívidas", conta ela, que trabalhava no mercado financeiro quando chegou aonde define como fundo do poço. Ela afirma que, ao sair dessa situação, conseguiu manter sua casa então penhorada e construir mais quatro. Hoje, vive desses aluguéis.

"Considerava minha dívida impagável, não via luz no fim do túnel e por isso pensava em suicídio" -  Maria, autônoma

Todo o processo de recuperação, relata, está associado ao programa gratuito composto por passos, tradições, promessas, ferramentas e reuniões presenciais (no seu caso em uma igreja na zona oeste de São Paulo, onde hoje Maria organiza as reuniões).

Essas transformações, conta, passam por questões comportamentais ("evite velhos lugares, velhos hábitos, velhas pessoas") e também por uma ferramenta chamada de alívio de pressão (um pente-fino nas receitas, despesas e relação de credores para orientar o endividado --inclusive sobre como fazer possíveis negociações).

"Se quiser resolver, o problema é nosso [da irmandade]. Seja o que for: não existe dívida impagável. Mas, se quiser continuar endividado, o problema é seu."

O que diz o especialista
Fabio Gallo, professor de finanças da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas), reforça a importância de rever o orçamento familiar em caso de dívidas. Com um sistema chamado A, B, C, D --sendo cada letra uma categoria de gastos--, ele afirma ser possível planejar reajustes e mudar aqueles hábitos incompatíveis com o endividamento.

Alimentação: quanto será usado para manter as necessidades da família (cortando supérfluos)? Básico: quanto é preciso para cobrir aluguel, condomínio, água, gás? Contornáveis: aqui entram os itens que tornam a vida melhor, mas devem ser cortados no aperto (ex: TV paga, pacote de dados no celular, academia). Desnecessários: anuidade de cartão e tudo aquilo que gera a pergunta "por que mesmo eu estou pagando isso?". "Essa classificação varia caso a caso. Se a pessoa usa o carro para trabalhar, ele pode ser contornável. Se usado somente aos finais de semana, é desnecessário", exemplifica.
* Os nomes foram trocados para preservar a identidade dos entrevistados
Por Juliana Carpanez
Fonte: Uol



‘Educação financeira ainda é um tema chato para o brasileiro’


Falta de conhecimento faz pessoas caírem em armadilhas e investirem de forma inadequada, diz executivo da Cetip.

Com a febre dos investimentos nas redes sociais, as promessas de ganho fácil atraem muitos que não têm conhecimento sobre o mercado financeiro e que acabam perdendo dinheiro com aplicações que não são adequadas a seu perfil.

Para Fábio Zenaro, superintendente de produtos da depositária de títulos Cetip, esses canais são importante fonte de informação, mas o conhecimento elementar deveria vir da família ou da educação básica, de forma a evitar armadilhas. Confira os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.

Qual é o papel dos canais, grupos e páginas que tratam de investimentos na internet?

O brasileiro ainda é deseducado financeiramente. Seja na escola, seja em casa. Isso é algo que deveria existir desde cedo. É raro ver famílias que discutam esse tema. Há pessoas que odeiam discutir investimentos, até por uma questão cultural. As redes sociais facilitam, mas há o trigo e o joio. É o mesmo cuidado que se deve ter com outros assuntos na internet. As redes sociais podem ajudar o ensino formal a abordar esse assunto. Se nós tivéssemos uma educação financeira melhor, não cairíamos em promessas do tipo “multiplique o seu dinheiro x vezes”, “venha descobrir o segredo”. Se tivéssemos uma educação financeira melhor, isso seria evitado.

De que maneira se pode capturar a atenção desse público?

Tenho visto canais com uma linguagem interessante. Para falar com o jovem, não é mais possível fazer como antigamente. O tema [educação financeira] é chato. Para o brasileiro, é mais chato ainda. Então, se você não tiver uma ferramenta, um jeito interessante de fazer, você não consegue, a não ser que as pessoas já se interessem pelo assunto. Isso também mostra um pouco por que há muitos que ainda acreditam que os melhores investimentos são poupança e imóveis – isso ainda está na memória do brasileiro – ou por que muitos ainda ficam endividados no rotativo do cartão e no cheque especial. As pessoas não param para fazer contas.

Falta uma atenção maior do regulador para a internet?

Esse é um papel da sociedade como um todo. Não só de órgãos ligados ao governo, mas também de bancos, das escolas, tem de ser algo maior. Poderia existir uma disciplina sobre educação financeira no Ensino Médio, por exemplo.

Que tipo de produto financeiro deve continuar atraindo o investidor pessoa física este ano?

Apesar da trajetória de queda prevista para a taxa básica de juros, a Selic, o juro real segue alto. Neste momento, a renda fixa ainda está muito atrativa. Pelo menos ao longo deste primeiro semestre esse cenário não muda tanto. Mas com inflação e o juro caindo, a tendência é de que o juro real diminua. É interessante olhar em renda fixa os CDBs (Certificado de Depósito Bancário) e produtos isentos (como as LCIs, LCAs e debêntures de infraestrutura). Além disso, há os títulos corporativos, como os CRIs e os CRAs, que também devem ganhar mais fôlego este ano.

A renda variável será uma alternativa?

Em um cenário mais claro, mais positivo para o Brasil, com a Selic mais baixa e a aprovação das reformas propostas pelo governo, o investidor pode começar a olhar mais para a renda variável, mas com muito cuidado por causa da volatilidade. Oportunidades sempre existem, mas não se vê grandes movimentos até que o horizonte esteja mais positivo.
por Malena Oliveira
Fonte: Estadão

3 coisas que gerentes de bancos costumam dizer, mas não são verdade

SÃO PAULO – Você ganhou um dinheiro inesperado, ou então trabalhou durante muito tempo, sempre acumulando seu dinheiro, e agora conta com uma boa quantia separada sem destino certo e que deseja investir.

Logo, você pensa que o banco será o melhor lugar para investir esse dinheiro. No entanto, nem sempre isso é o que acontece, uma vez que os interesses do seu gerente não serão, necessariamente, os mesmos que você tem como investidor.

Aderson Gegler, assessor de investimentos da Moinhos Investimentos, diz quais são as mentiras mais comuns que você ouve do seu gerente no banco.

1 – Insistir que título de capitalização é um investimento

"Não é. Título de capitalização é jogo. O que o banco vende é uma expectativa de que o cliente possa ganhar um capital significativo frente ao que ele investiu. Na verdade, o banco faz o dinheiro do cliente ficar 'preso' por vários anos e devolve uma rentabilidade pífia, na maioria das vezes menor até do que a caderneta de poupança", afirma o assessor de investimentos.

2 – Fazer você pensar que o único investimento seguro é a poupança

"Na verdade a poupança possui a mesma garantia que outros investimentos, como CDB (Certificado de Depósito Bancário) ou LCI (Letra de Crédito Imobiliário), que têm exatamente a mesma segurança. Todos eles são garantidos pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito) até o valor de R$ 250 mil por investidor por instituição financeira", diz Gegler.

3 – Fazer você achar que existe um único investimento para tudo

"Nenhuma carteira de investimentos está completa com apenas um produto. É necessário que se faça uma diversificação inteligente, em títulos e fundos de diferentes categorias, sempre respeitando o perfil de investidor do cliente. Muitas vezes o gerente precisa bater uma meta e acaba ligando para seus clientes para empurrar um ou outro desses produtos, sem nenhum compromisso com o resultado (ou a falta dele) que isso vai gerar para a carteira final do investidor. Com a inflação elevada que temos hoje é muito comum vermos produtos com rentabilidade real (acima da inflação) negativa", encerra o assessor.
Fonte: Info Money

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

A felicidade como produto de consumo


Nunca é demais retornar ao tema da felicidade, algo que, como já referi, o mercado oferece abertamente. Nos anúncios publicitários, por exemplo: "Pão de açúcar, lugar de gente feliz". Nos nomes de produtos e nas promoções como a dos brindes no Mc Lanche Feliz ou do Mc Dia Feliz do Mc Donald's. O mercado oferece também a paixão, que, claro, leva à felicidade: "Grandes paixões a gente nunca explica. Apenas sente. Seja sócio Premiere FC e viva a emoção de ver as conquistas do melhor time do Brasil: o seu!" etc.

Examinando-se os anúncios publicitários, como regra, o que se vê são pessoas bem sucedidas, sempre sorridentes, alegres, cantando, se abraçando, passeando, dançando, enfim, felizes. E não é para isso que os produtos e serviços são oferecidos? Para que as pessoas se sintam bem, se satisfaçam, atinjam seus sonhos, cheguem ao patamar desejado, isto é, se sintam felizes?

Para a insatisfação com o corpo, partes postiças; para as rugas, cremes miraculosos; para as gordurinhas indesejadas cintas e roupas adequadas ou academias repletas de promessas ou, ainda, dietas que adornam a esperança; tudo, naturalmente, para que, no final das contas, nós consumidores atinjamos um excelente patamar de vida. Férias? É o momento de suprema felicidade. Quer emoção? Paixão? Não perca as finais do campeonato de futebol e sinta-se sublime. Pacotes de viagem, hotéis, lugares paradisíacos ou simplesmente indispensáveis (Paris, por exemplo, ou Nova York). Desfrutar os momentos de lazer, passeando à beça e conhecendo muitos lugares ou simplesmente não fazendo nada etc.; mais uma vez, para quê? Ora, sermos felizes.

Se nós fossemos capazes de conseguir olhar por trás dos bens adquiridos, para além dos serviços, por debaixo das embalagens, para dentro da química dos alimentos e dos cosméticos, se pudéssemos ver realmente como as coisas são, numa espécie de raio X mágico que enxergasse o espírito dos produtos e dos serviços, certamente encontraríamos um anjo (!) sorridente que nos entregaria a chave da porta de entrada da cidade feliz; um lugar onde poderíamos, afinal, respirar sossegados e em paz, essa que talvez seja a irmã da felicidade.

Mas, será que esse anjo existe? Ou se trata de mais uma ilusão oferecida pelo mercado? O modelo de produção muito bem engendrado foi capaz de, aos poucos, encontrar e preencher certos espaços vazios encontrados na alma humana. As pessoas foram muito bem estudadas em seus anseios, suas dificuldades, seus desejos, suas necessidades, seus comportamentos etc. Além disso, a vida social foi esmiuçada e acabou por ser penetrada pelo modelo de produção capitalista. Desse modo, aos poucos, o mercado foi avançando no meio social e penetrando no coração das pessoas. Os espaços encontrados foram sendo preenchidos pelos produtos e serviços oferecidos no mercado.

Atualmente, o poder do mercado é tamanho que praticamente nada se lhe escapa. Como já demonstrei em vários artigos meus aqui publicados, o modelo de produção acabou se imiscuindo em praticamente todas as esferas sociais, afetando relações pessoais, de emprego e sociais das mais gerais, o sistema educacional, os esportes etc. E também a própria relação dos indivíduos entre si.

Pergunto: será que o que se esconde por detrás dessa enorme profusão de produtos e serviços é uma promessa de encontro da felicidade? Ou, dito de outro modo, será que o sucesso do mercado de consumo no atual modelo capitalista ocorre porque, no fundo, o que se está oferecendo, ainda que não declaradamente, é a felicidade?

É possível ilustrar esse processo de oferta e também o quanto os fornecedores conhecem a alma do consumidor com vários exemplos, mas ficarei apenas com um, que aqui já citei e que é muito peculiar: o dos videntes, médiuns, leitores de búzios etc., que prometem resolver, dentre outros, os problemas amorosos dos consumidores-consulentes. Fazendo uma pesquisa, descobri uma série de anúncios desse tipo de serviço em jornais e revistas.

Caro leitor, veja esse publicado numa revista: "Amor perdido. Trago de volta quem você ama, melhor que era antes". E há muitos casos de oferta para o encontro do amor verdadeiro, para a salvação do casamento etc.

Se essas ofertas existem é sinal de que há um público consumidor interessado nelas. Isso demonstra que, realmente, o mercado conhece profundamente o consumidor em suas dificuldades, necessidades, anseios, desejos, sonhos etc. Mostra, também, que por trás das ofertas – não só nestas como em muitas outras – existe uma promessa de encontro da felicidade.

Do ponto de vista do consumismo, isto é, das compras exageradas de produtos e serviços, muitas delas desnecessárias, isso talvez explique um círculo vicioso contínuo e interminável: o consumidor vai ao mercado procurar a felicidade e compra, para tanto, sapatos, relógios, roupas, viagens, consultas em videntes etc., mas, como nem sempre consegue ser feliz por esse meio, continua comprando na esperança vã de atingi-la.
Por Rizzatto Nunes
Fonte: Migalhas

Problemas com o banco? Dica n° 1: não procure o gerente; veja onde reclamar

Quem nunca teve problemas com o banco? Cobranças indevidas e falta de informações importantes sobre produtos são alguns dos exemplos mais comuns.

Na hora de reclamar, o primeiro cuidado é não procurar o gerente do próprio banco, diz o Idec (Instituto Nacional de Defesa do Consumidor). "Por mais bem- intencionado que seja, o gerente é pressionado a atingir metas", diz Ione Amorim, economista da entidade.

A recomendação é acionar outros canais de atendimento. Veja o passo a passo para registrar suas queixas.

1. Ligue para o SAC

O SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor) deve ser o primeiro canal procurado na hora de reclamar. Por lei, todo banco precisa ter uma linha de telefone 0800, disponível 24 horas por dia, sete dias por semana. A ligação é gratuita de telefone fixo e celular. Todas as ligações são gravadas.

Ao registrar a reclamação no SAC, você receberá um número de protocolo. É fundamental guardá-lo, tanto para ter acesso a essa ligação no futuro como para dar prosseguimento à reclamação.

Segundo Ione, o SAC do banco tem um prazo de cinco dias úteis para dar resposta ao consumidor.

O cliente pode pedir a gravação da conversa --elas devem ficar guardadas por pelo menos 90 dias, segundo as regras para o SAC. Caso necessite juntar provas, entre em contato com o próprio 0800 e solicite a gravação. Os bancos devem manter o registro eletrônico do atendimento por no mínimo dois anos após a solução do problema.

Veja os números do SAC dos principais bancos:

  • Caixa Econômica Federal: 0800 726 0101
  • Banco do Brasil: 0800 729 0722
  • Bradesco: 0800 704 8383
  • Itaú Unibanco: 0800 728 0728
  • Santander: 0800 762 7777
2. Busque a ouvidoria

Regulamentada pelo Banco Central, a ouvidoria é a instância do banco que tem mais poder para resolver os problemas dos clientes. Seu papel é cuidar para que esse relacionamento seja o melhor possível. A ouvidoria, aliás, faz a gestão do SAC.

Ela deve ser o próximo passo, caso o SAC não tenha resolvido o problema em até cinco dias úteis. Ao ligar, lembre-se de ter em mãos o número de protocolo fornecido no SAC. A ouvidoria também fornece um protocolo e se compromete a dar uma solução ao problema em até dez dias úteis.

Um erro, segundo Ione, é falar apenas com o SAC e usar as redes sociais para reclamar.

“Os canais internos dos bancos são regidos pela lei. Já as redes sociais têm apenas o papel de constranger o banco, mas não têm o caráter fiscalizatório.” Ione Amorim, do Idec

Confira os números da ouvidoria dos principais bancos:

  • Caixa Econômica Federal: 0800 725 7474 
  • Banco do Brasil: 0800 729 5678 
  • Bradesco: 0800 727 9933
  • Itaú Unibanco: 0800 570 0011
  • Santander: 0800 726 0322
3. Registre queixa no Banco Central

Também vale a pena enviar a reclamação ao Banco Central, órgão responsável por regular e fiscalizar os bancos. Isso pode ser feito pelo site (https://www.bcb.gov.br/pre/portalCidadao/bcb/reclamacaoDenuncia.asp) ou pelo telefone 145 (de segunda a sexta, das 8h às 20h; é cobrada tarifa de ligação local). Para reclamações, é preciso digitar a opção 8. Já a opção 6 vale para informações sobre cobranças indevidas.

O BC não resolverá o seu problema, pois não pode atuar em casos específicos de consumidores. Mesmo assim, é importante denunciar, porque isso ajuda o BC a fiscalizar o sistema financeiro, segundo especialistas. Além disso, contribui para elaboração do ranking das instituições financeiras que mais recebem reclamações, divulgado mensalmente pelo BC.

Só assim é possível mapear os problemas para aperfeiçoar o acompanhamento feito junto aos bancos e desenvolver ações que melhorem o relacionamento com os clientes.

4. Reclame no Procon de sua cidade

Não teve seu problema resolvido? Vá atrás dos seus direitos no Procon da cidade onde mora. No site do Ministério da Justiça (http://portal.mj.gov.br/ControleProcon/frmLogon.aspx), é possível encontrar o endereço e o contato dos Procons em todo o Brasil. Esse contato pode ser feito pelo telefone ou pessoalmente.

No caso de São Paulo, além do telefone, o Procon oferece atendimento a distância. Basta entrar no link (http://www.procon.sp.gov.br/categoria.asp?id=1200) e escolher uma das opções: atendimento eletrônico, Facebook, Twitter ou caixa postal.

"Ao reclamar, o Procon vai negociar com o banco, que tem até dez dias para dar a resposta ao cliente", diz Renata Reis, coordenadora do Procon-SP. Se o banco não responder nesse prazo, o órgão de defesa do consumidor abre um processo administrativo, que pode demorar 120 dias para chegar ao final. Se ganhar, o Procon pode multar o banco.

O ideal, segundo os especialistas, é seguir os passos, ou seja, só depois de esgotadas as tentativas com o SAC e a ouvidoria, o próximo recurso é o Procon.

5. Recorra à Justiça

Se nada disso funcionar, o consumidor pode entrar com uma ação na Justiça. Para isso, deve separar toda a documentação que comprove o problema e os passos que deu até aqui.

Com as provas em mãos, procure o Juizado Especial Cível (antigo Juizado de Pequenas Causas), que aceita causas de até 40 salários mínimos (R$ 38.160) --nas causas abaixo de 20 salários (R$ 19.080), não é preciso ter advogado. No Juizado Especial Federal, o limite é maior: até 60 salários mínimos (R$ 57.240). Para valores maiores, será preciso entrar com processo na Justiça comum. Nesse caso, é preciso procurar um advogado.

Fonte: Danylo Martins - Colaboração para o UOL